27 de Outubro de 2009

Há certos momentos, e certas pessoas, que gostaria de poder agarrar e guardar em mim - pegá-los com a mão e cerrar o punho; impedir que se vão embora e desapareçam nas teias do tempo. Não quero perdê-los. A nenhum deles. E são tantos. Ou melhor, são alguns, mas com grande importância. Quando falo na perda, não me refiro somente à total ausência física da pessoa no mundo real, mas antes ao afastamento que o processo natural da vida nos obriga e que é absolutamente incontornável. Deste sim tenho medo. Já a morte não me assusta. Não agora, pelo menos. Ao pensar que gostaria de retê-los todos em mim, deparo-me imediatamente com a componente egoísta que tal desejo reflecte. Amar os outros, independentemente de serem família, amigos ou paixões (amores para sempre ou fugazes)  significa precisamente que sabemos respeitar a sua liberdade. E isso pressupõe que aceitemos que partam, para depois voltarem. Ou não. Amar é permitir que aqueles que amamos abram as asas e voem, mesmo que não seja em nosso redor, mesmo que, porque o tempo assim o quis e as pessoas se esqueceram de o contrariar, não regressem. E apesar de ter plena consciência disto, é-me tão difícil ainda assim pensar que poderei não tê-los daqui a uns anos. Assustam-me os dias. Não os do futuro, mas os do presente, aqueles que nos impedem de cultivar, porque normalmente impedem e porque cada vez mais acabarão por fazê-lo. De qualquer forma, permito que voem. Não tenho alternativa. Enquanto isso, mantenho-me alerta. Quero estar aqui para quando voltarem. E mesmo que não venham, pelo menos saberei que estive. A mim o tempo não me fará esquecer.       

   

publicado por Inês Alves às 14:07
Sugiro que vejas um quadro do Dali e leias sobre a sua interpretação..é um quadro fantástico que se chama A Persistencia da Memória...
Alcides a 27 de Outubro de 2009 às 22:58
Um dia abri as asas e vooei para bem longe deixando a família, os amigos, o país. Eu tinha mais ou menos a sua idade e uma tremenda inquietacao que convidava-me a atravessar o oceano. Penso hoje na dor da saudade que lá deixei.
Penso nos olhos do meu pai em cada chegada e partida no aeroporto. A contagem regressiva da próxima vinda e a dor iminente da saudade no adeus.
"O passarinho tem que sair da gaiola dourada e voar" aceitava ele.
Meu pai partiu para sempre, há quatro anos atrás. Os olhos dele se tornaram
imortais: ele acompanha sorrindo o voo dos passarinhos .
Eu poderia escrever mais, mas a filhota precisa agora do computador...
Um abraco,
Ana Blumenstock
anablumen@hotmail.de a 5 de Novembro de 2009 às 16:10
No texto "Para os que pensam, que..." tematiza-se a saudade e a alegria. Sim, elas andam juntas. E mais: dividindo a alegria, ela se duplica. A saudade nao é a melancolia do que passou. A saudade é o aqui e agora de algo que nao se acaba. Porisso relatei no texto acima sobre olhos do meu pai, que acompanham sorrindo o voo dos passarinhos. É saudade que alegra o coracao.
Quanto à tristeza: ela também traz belos e intensos momentos. Na música clássica, mormente nos movimentos lentos, aí ela está na mais infindaa beleza.
Que opina sobre a música clássica?
Um forte abraco,
Ana
Anónimo a 8 de Novembro de 2009 às 11:38
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