Há certos momentos, e certas pessoas, que gostaria de poder agarrar e guardar em mim - pegá-los com a mão e cerrar o punho; impedir que se vão embora e desapareçam nas teias do tempo. Não quero perdê-los. A nenhum deles. E são tantos. Ou melhor, são alguns, mas com grande importância. Quando falo na perda, não me refiro somente à total ausência física da pessoa no mundo real, mas antes ao afastamento que o processo natural da vida nos obriga e que é absolutamente incontornável. Deste sim tenho medo. Já a morte não me assusta. Não agora, pelo menos. Ao pensar que gostaria de retê-los todos em mim, deparo-me imediatamente com a componente egoísta que tal desejo reflecte. Amar os outros, independentemente de serem família, amigos ou paixões (amores para sempre ou fugazes) significa precisamente que sabemos respeitar a sua liberdade. E isso pressupõe que aceitemos que partam, para depois voltarem. Ou não. Amar é permitir que aqueles que amamos abram as asas e voem, mesmo que não seja em nosso redor, mesmo que, porque o tempo assim o quis e as pessoas se esqueceram de o contrariar, não regressem. E apesar de ter plena consciência disto, é-me tão difícil ainda assim pensar que poderei não tê-los daqui a uns anos. Assustam-me os dias. Não os do futuro, mas os do presente, aqueles que nos impedem de cultivar, porque normalmente impedem e porque cada vez mais acabarão por fazê-lo. De qualquer forma, permito que voem. Não tenho alternativa. Enquanto isso, mantenho-me alerta. Quero estar aqui para quando voltarem. E mesmo que não venham, pelo menos saberei que estive. A mim o tempo não me fará esquecer.