12 de Maio de 2009

Hoje, enquanto almoçava sozinha no Fórum Montijo, vivi uma situação verdadeiramente hilariante. Estava eu a comer a minha salada (com aquele salmão fumado que sabes que adoro), quando um rapaz me abordou, perguntando-me se era comprometida (repara no pormenor: comprometida; podia perguntar se namorava, mas não, preferiu comprometida. Quase como: a menina dança?, se é que me entendes). Creio que quase me engasguei com os espinafres. Levantei o olhar e, como não lhe respondi imediatamente,  teve ainda tempo para acrescentar: "Não pude deixar de reparar que és muito bonita..."  (bah... tão básico, pensei) e tornou a fazer-me a mesma pergunta. Não foi inteligente a forma como me abordou mas não pude deixar de lhe achar piada. Lembro-me do seu sorriso (é sempre aquilo que fixo primeiro; o sorriso e as mãos, não sei explicar porquê...). Do bom ar, vestido de fato, que lhe assentava que nem uma luva (tenho de admitir). Pensei: deves trabalhar há pouco tempo. Após estes pequenos segundos de raciocínio - enquanto ele olhava para mim com o tabuleiro nas mãos - meti o meu ar mais sério (o que conheces e a que sabes que recorro quando as investidas me irritam, ou seja, por norma, quase sempre) e respondi-lhe:  "Podes sentar-te aqui porque vou levantar-me já" (brutinha, como só tu sabes que, às vezes, sou; ao invés de calar deito tudo para fora, mas que hei de fazer?). Reparei, de soslaio (para não dar nas vistas), no ar desiludido com que ficou (não é fácil apanhar uma tampa), mas tive a certeza de que não ficaria sozinho por muito tempo. A verdade é que acabei por não lhe responder. Naquele instante, lembrei-me de ti (embrenhado em fórmulas, contas e algarismos para passar no exame) e duvidei eu própria da resposta. Pensei no apoio e na tua presença constante, ainda que, às vezes (e tu sabes), prefira estar sozinha. Sabes que gosto. Sabes que preciso do meu espaço e do meu silêncio. De momentos comigo, a sós. Para pensar, para lembrar, para saber se vale a pena arriscar ou deixar assim (sempre foi, sempre será. Será?). Enquanto procurava a resposta, tive a sensação de que deixamos passar muita coisa por nós sem que nos apercebamos disso. Mas, naquele dia, não estava receptiva a nada. E é preciso que saibamos estar para que as coisas possam, efectivamente, chegar até nós e permanecer connosco por algum tempo. O necessário para deixar mossa. Para que queiramos mais. Para que procuremos mais. Não foi o caso. Nem sempre é. Aliás, é-o muito pouco comigo. Sou exigente. Selecciono muito. Acho sempre que ninguém será igual. E acabo sempre por, em pouco tempo, confirmar isso, infelizmente. Não é por acaso que estive contigo durante tanto tempo e continuo próxima, sem saber muito bem (às vezes baralho-me) em que condição. Portanto, a partir de hoje não me perguntem se namoro. Não sei dar-vos resposta. Podem dizer-me "bora comer um gelado?" ou "vai um sushi?" , mas não digam, por favor, que sou bonita. Não quero saber. Prefiro saborear o gelado ou o sushi e falar. Falar muito. Conhecer. Conhecer muito. Para ter a certeza. A absoluta, não a aparente.    

publicado por Inês Alves às 22:55
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