Preparava-me para sair e abri um caderno que, há pouco tempo, me ofereceram num trabalho. Na primeira página, sob uma imagem árida, de uma praia meio desertificada (que me fez lembrar a minha...), estava escrito: "Não deixe nada por dizer". Sorri. Era exactamente naquilo que pensava antes de o abrir. Nesse momento, desejei que o tempo pudesse voltar atrás. Horas apenas. Minutos (muitos) talvez. Às vezes, queria só poder sustê-lo, como sustenho a respiração em momentos de angústia ou aflição. Poder pará-lo, como páro a marcha quando acho que não vou ser capaz de prosseguir caminho. Retê-lo em mim o suficiente para conseguir sentir. Respirar fundo e ter a certeza de que nada faria de diferente e que, mesmo que não haja amanhã e que os desejos diminuam de intensidade, "houve qualquer coisa quente quando estiveste".