Escrevo porque me apetece. Se não me apetecesse, provavelmente deixaria de escrever. Entregar-me-ia a um qualquer prazer mundano ou deixar-me-ia cair, apática, no sofá. Escrevo porque há muito de que me recordo e há erros que lamento. Se me arrependo? Talvez, mas os arrependimentos dão-nos normalmente mais força para prosseguir noutro sentido, outro que não aquele para onde, erradamente, caminhávamos. Tantas vezes pensei guardar em mim todas as certezas. Tantas vezes te contrariei e de todas elas pensei saber exactamente o que estava certo, como se o bem e o mal pudessem, alguma vez, dispor-se em sentidos opostos na vida. Não podem e eu não sabia disso. Percebi há pouco tempo que nem sempre somos tão bons como gostaríamos, nem sempre conseguimos afastar-nos do mal, por muito que o desejemos.
Tantas vezes me escusei de te dizer, a ti, o que realmente sentia. Tantas vezes fiquei calada quando devia ter falado, questionado, procurado saber. Tantas vezes parei quando devia ter corrido atrás. Em tantos momentos não olhei por medo, não disse por vergonha, não chamei por orgulho. Mais do que uma vez, facilmente desisti sem sequer ter tentado de facto. E foram dias que se perderam, foram anos que ficaram por viver. Quem seria hoje se tivesse feito diferente? O que teria existido se não tivesse recusado? Queria poder pedir desculpa a quem, um dia, em consciência ou não, magoei. Poder dizer olá a todos os rostos que nunca cheguei a cumprimentar e pegar na mão de quem nunca me atrevi. Embora possa parecer, não vivo do passado, prefiro antes olhá-lo com carinho porque foi ele que permitiu ser hoje quem sou, construir-me, aos poucos, sem pressas nem tropeções. Sirvo-me dele para tentar ser melhor e fazer diferente a cada dia. Afinal, que sentido tem a vida se não for o de procurarmos o aperfeiçoamento? E isso não significa que tenhamos, necessariamente, que entrar em competições, significa antes que podemos ser mais humanos, mais verdadeiros. Ter menos medo das respostas e, ainda que um rubor inconveniente se apodere do nosso rosto, aproveitar a oportunidade, sempre única, para dizer: quero ver-te e saber o perfume a que cheiras.